O Concelho de Manteigas a exemplo de outros com semelhantes particularidades provincianas, foi e é uma Terra de enraizadas tradições religiosas.
São prova disso as numerosas práticas religiosas que se desenrolam através do Ano Litúrgico da Igreja, os muitos monumentos que a Fé de muitas gerações passadas ergueu, principalmente as Igrejas de Santa Maria, São Pedro e Misericórdia, na Vila de Manteigas a Igreja de São João Baptista na Freguesia do Sameiro, a Igreja de Nossa Senhora da Anunciação na Freguesia de Vale de Amoreira e as várias capelas espalhadas pelos arredores da Vila até aos altos da Montanha que nos cerca e aconchega.
Com uma forte vocação para a prática religiosa o povo de Manteigas sempre viveu com especial devoção as Festas Religiosas, principalmente a Festa do Senhor do Calvário e a Festa de Nossa Senhora da Graça. Ao imaginário lendário do Povo de Manteigas estão também associadas outras festas religiosas como por exemplo: a Festa de Nossa Senhora dos Verdes e a Festa de São Lourenço.
O Feriado Municipal foi aprovado em sessão da Câmara Municipal no dia 17 de Novembro de 1977 e ratificado pela Assembleia Municipal em 30 de Novembro do mesmo ano.
A escolha deste dia como feriado municipal está associado à atribuição do Foral por D. Manuel I em 4 de Março de 1514. Neste foral D. Manuel I vem confirmar os privilégios e tributos concedidos a esta Vila por D. Sancho I em 1188.
É difícil apurar quando se iniciou a devoção a Nossa Senhora da Anunciação no ainda povoado de Vale de Amoreira, que durante muitos anos pertenceu ao Concelho de Valhelhas. Em 1855 com a extinção deste concelho, Vale de Amoreira fica como anexa da Freguesia de Valhelhas.
Contudo, tendo em conta as remotas e bem enraizadas tradições religiosas das populações limítrofes, é de crer que a Festa em sua honra tenha seguramente séculos de história.
Não é possível confirmar a que tempo remonta a devoção do Povo de Manteigas a Nossa Senhora da Graça que se soleniza na Freguesia de São Pedro de Manteigas. Sabe-se, apenas que vem de longa data.
Diz a lenda que a primeira imagem da Senhora da Graça foi encontrada num silvado, envolta num cristalino manto e que apresentava uma arranhadela de silva que nenhuma tinta conseguia apagar.
A tradição atribui-lhe uma milagrosa intervenção a favor de uns navegantes que, no alto mar, foram surpreendidos por forte tempestade. Ao implorarem a Proteção Divina em hora tão aflitiva, viram com surpresa, aparecer-lhes a figura da Virgem que, sorrindo-lhes, os conduziu a porto de salvação.
Diz mais a tradição que aqui vieram os navegantes descobrir a imagem da Senhora que lhe havia aparecido, e que, em gesto de reconhecimento, lhe ofereceram um lampadário de prata, adaptado a candeeiro elétrico e que foi colocado no teto do coro da Igreja de São Pedro.
Diz a tradição que remonta a muitos anos a devoção, em Sameiro, à sua veneranda protetora – a Virgem Mártir Santa Eufémia- cujo calendário festivo litúrgico dedica o dia 16 de Setembro.
Santa Eufémia é particularmente invocada como padroeira de “nascidas ruins e males desconhecidos”, daí que este facto seja absolutamente relevante para que não só as gentes do Concelho de Manteigas lhe prestem devota homenagem, mas também outras Terras.
A devoção a Santa Eufêma vai muito para além do seu dia, pois a fama dos seus milagres faz afluir à sua Capela muito devotos no decurso do ano.
A data da edificação da sua capela deve remontar a época muito distante, visto que a primeira imagem da Santa se encontrava deteriorada no ano de 1696 e que foi ordenado o seu enterramento pelas competentes autoridades eclesiásticas.
O Senhor do Calvário que se festeja na Freguesia de Santa Maria de Manteigas, está relacionada com factos históricos que a tradição oral, de geração em geração, tem trazido até aos nossos dias. O que se conta é descrito na monografia cujo a compilação de textos é da responsabilidade de José Lucas Baptista Duarte, “Antologia: depoimentos histórico – etnográficos sobre Manteigas e Sameiro de Manteigas” e diz “que um dia, tremenda tempestade desabou sobre Manteigas – uma tempestade como ninguém jamais aqui tinha presenciado. As barrocas da Serra, de mar a mar, desciam precipitadamente as encostas abruptas, arrastando na sua voragem pedregulhos que, por sua vez, iam de encontro aos muros de proteção dos terrenos limítrofes, tudo arrastando numa fúria louca, convergindo para os Ribeiros que atravessam a vila.
Já os sinos das Igrejas tocam a rebate pondo o povo de sobreaviso e convidando-o a fugir das suas casas. Entretanto, debaixo de chuva torrencial, vai-se aglomerando nos sítios menos expostos à cheia inclemente.
Alguém se lembra de levantar o grito de que é preciso e urgente implorar a Proteção Divina, e logo vozes se levantam para que todos se dirijam à Capela do Senhor do Calvário. A vila em pesos, com a sua Câmara à frente, para ali se dirige implorando a clemência do Céu e, pela voz da Autoridade, ali se formula o voto solene de todos os anos a vila e a sua Câmara promoverem uma Festa em honra do Senhor do Calvário que, entretanto, é aclamado Padroeiro de Manteigas. A tempestade amainou, fazendo-se acompanhar de um compreensível alívio das gentes”.