No limite vertical
A previsão de muito frio durante vários dias, levaram os alpinistas residentes em Manteigas, Paulo Roxo e Daniela Teixeira, a manterem-se atentos à face Este do Cântaro Magro. Esta é a parede do Cântaro que domina o Covão d’Ametade e constitui uma das maiores paredes de granito de Portugal. Exposta ao sol, raramente oferece condições “invernais” para ser escalada durante a estação fria, no entanto, o aspeto nevado que se manteve por vários dias fez supor que a face merecia uma tentativa.
Uma semana após terem aberto uma nova via de escalada mista (que envolve rocha, neve e gelo), o frio permaneceu e acentuou-se e, no dia 11 de janeiro, os alpinistas regressaram à mesma parede na tentativa de realizar mais uma escalada mista. Não imaginavam encontrar um alinhamento de gelo com mais de uma centena de metros (de referir, que a maior cascata de gelo na Serra da Estrela – a “Cascata encaixada”, no Covão do Ferro – possui 80m).
No flanco esquerdo da parede, formou-se uma linha contínua de gelo de fusão, que aparentava possuir condições para se realizar uma ascensão com relativa segurança. Essa oportunidade foi bem aproveitada pelos alpinistas e o resultado foi a realização de uma via integral de escalada em gelo com 250m, o que, apesar da sua dificuldade técnica moderada, constitui a maior linha de escalada em gelo jamais realizada em território português. À nova via foi atribuído o nome «No limite vertical», tendo em conta a sua natureza efémera.
«Não vemos esta via como um grande objetivo ao nível técnico ou de dificuldade. Foi mais uma curiosa escalada de muito rara oportunidade, fruto de uma semana com temperaturas muito baixas. De facto, duvidamos que essas condições se repitam no futuro próximo, dadas as alterações climáticas e ao aquecimento global.» – confessaram os alpinistas. Com efeito, no dia seguinte, com o aumentar da temperatura, parcelas da via já tinham caído. «No entanto, ficamos felizes por ter conseguido realizar esta ascensão espetacular!» – concluíram, com um sorriso.
Esta e outras aventuras podem ser seguidas no blogue – Rocha podre e pedra dura (http://rppd.blogspot.com/).