Francisco Maria de Barros e Vasconcelos da Cruz Sobral, médico militar, nasceu no Porto no ano de 1845. Filho do general de divisão Francisco Maria Melquíades da Cruz Sobral e de D. Maria Bárbara de Barros e Vasconcelos da Cruz Sobral, formou-se em medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, tendo sido um dos alunos mais reconhecidos de seu curso. No ano de 1868 entrou no exército, tendo sido colocado como cirurgião ajudante no Regimento de Infantaria Nº 4, passando para a Infantaria nº12, aquartelado na Guarda, sendo em 1883 promovido a cirurgião-mor deste Regimento.
Em 1882 deflagrou na vila de Manteigas uma epidemia de tifo que subitamente alastrou de uma maneira assustadora, atacando os dois médicos existentes nesta localidade, causando a morte de um deles, e atingindo com gravidade o outro. A esta situação acrescia o facto de os medicamentos estarem esgotados, e as roupas e os alimentos necessários para os doentes rarearem. Haviam sido enviados pedidos de socorro à Guarda, mas os médicos desta cidade, temendo o contágio, recusaram ir. Assim, o Dr. Francisco Sobral, em face da recusa dos seus colegas, ofereceu-se para seguir imediatamente para Manteigas com o pessoal sanitário que foi possível arranjar. Impunha apenas como condição, não receber quaisquer honorários pelos seus serviços.
Ao chegar a Manteigas, montou logo um hospital provisório, expondo-se completamente a todos os perigos de contágio, e em pouco tempo, a epidemia estava debelada, e a população, retomando a confiança perdida, passou a auxiliá-lo na defesa dos habitantes ainda não atingidos. A sua ação passou também pela instituição de sopas económicas, ou seja, da sopa dos pobres, com autorização do governo civil de Lisboa. O próprio médico escrevia o que ia encontrando durante a sua estadia em Manteigas, como por exemplo, o estado de saúde de uma família composta por um casal e três filhos: “Em uma repugnante enxerga, quase preta pela sujidade, jaziam marido, mulher e três filhinhos, ressequidos pela sede, consumidos pela febre e não tinham água, nem luz, nem fogo, nem um caldo. Não tinham nada. Estavam cobertos com uns nojentos farrapos que deixavam ver, em diferentes pontos, as carnes não menos imundas do que todo o resto. E havia três dias que não viam pessoa nenhuma (…) Sinto-me bem quando penso que desde esse dia a fome fugiu daquela habitação, cujo aspeto me impressionou de uma forma extraordinária. Bendigo o feliz acaso que ali me levou, e ainda mais o ter na minha bolsa, o bastante para poder remediar os infelizes até ao dia em que se principiou a distribuir sopa económica.”.
O esforço do Dr. Sobral mereceu os aplausos de todo o país e o governo recompensou-o, agraciando-o com o Grau de Cavaleiro da Torre e Espada, por decreto de 5 de Abril de 1883. A Câmara Municipal de Manteigas, de forma a honrar a dedicação deste homem à vila, decide que um retrato seu seria elaborado e exposto na sala de reuniões camarárias, resolução presente na ata de sessão de Câmara de 23 de Maio de 1883: “(…) a Câmara (…) pedisse licença ao Exmo. Sr. Dr. Sobral, a fim de se lhe mandar extrair o seu retrato de tamanho natural e a óleo, o encaixilhado devidamente da melhor forma que podesse ser para ser colocado na sala de reuniões d’esta Câmara, para memória dos vindouros d’ um homem que tanto tem feito na cauza da epidemia que aqui tem grassado: a Câmara unanimemente accordou n’esta proposta e achou muito justa”.
O Dr. Francisco Sobral empreendia também esforços junto do poder central com o objetivo de melhorar as condições de vida na vila de Manteigas, como pode ser verificado observando a ata de sessão da Câmara de Manteigas de 24 de Julho de 1883: “o Exmo. Sr. Dr. Sobral pedindo a devida permissão disse que regressando há pouco de Lisboa onde combinou com o Governo de Sua Majestade a abertura de trabalhos públicos n’esta localidade para com isso ver se acodia à miséria dos desgraçados e para mais facilmente a fim se debelar a terrível epidemia que aqui nos tem afligido e constando-lhe que a pedido seu fora igualmente já aprovado o estudo do lanço da estrada municipal d’esta vila aos banhos propunha a Câmara para se prompto se acudir a estes males pozesse em arrematação parte do lanço da estrada a começar do local dos mesmos banhos até que estes trabalhos sejam auxiliados pelo Governo e pela Exma Comissão Executiva o que como Sua Excelência diz ficar combinado”.
A sua boa ação estendia-se a todo o distrito da Guarda, onde era reconhecido. Fisicamente, era alto, vigoroso, bem constituído e forte, usando um farto bigode e pera, sendo o seu cabelo castanho e espesso. Faleceu no dia 4 de Dezembro de 1888. Na ata de sessão da Câmara de Manteigas do dia 31 de Dezembro de 1894, é referenciada a transladação dos restos mortais do malogrado médico.
Pela sua grandiosa ação foi dado o seu nome à antiga rua do Sol, sendo esta deliberação tomada pela Câmara Municipal de Manteigas na ata de sessão de 15 de Dezembro do ano de 1888. A rua Dr. Francisco Sobral tem início na rua de Benguela, entroncando com a rua Engenheiro Pedro Roberto e terminando na rua de S. Marcos.